A CDU afirma-se <br>com a força do povo
O Secretário-geral do PCP esteve, nos dias 18 e 19, nos distritos de Aveiro, Porto e Braga. A crescente mobilização e reconhecimento populares em torno da CDU foi evidente na marcha de sábado, no Porto, a iniciativa de pré-campanha com maior expressão de massas realizada pelo PCP-PEV.
Em causa, a 4 de Outubro, está a escolha entre dois caminhos
A grande arruada realizada ao início da tarde de sábado arrancou da Praça da Batalha e terminou em São Bento. No percurso, a palavras de ordem como «sobe, sobe CDU» ou «Abril, de novo, com a força do povo», responderam afirmativamente muitos dos que, nos passeios, apoiavam e saudavam os mais de cinco mil que desfilaram com bandeiras e panos da coligação que junta comunistas, ecologistas e milhares de homens e mulheres sem partido.
Um ambiente favorável que confirma a «pujança deste povo que tem força para derrotar os partidos da política de direita», e deixa antever «que vamos aumentar a nossa votação, o número de deputados e a nossa influência política», como afirmou João Corregedor da Fonseca, o primeiro a intervir no palco instalado frente à emblemática estação ferroviária portuense.
A força do povo foi, de facto, o que mais emergiu da acção de massas. Mas essa mesma força, capacidade de mobilização e reconhecimento popular que se tem sentido nas acções de campanha tem de se traduzir em votos. Esta foi outra ideia-chave deixada pelo dirigente da Intervenção Democrática.
No mesmo sentido se pronunciou o membro da Comissão Executiva do Partido Ecologista «Os Verdes». É preciso «castigar a austeridade» e os partidos que chamaram a troika. «Votar em quem tem palavra», disse Francisco Madeira Lopes.
Mais directo ainda, Jorge Machado, cabeça-de-lista pelo distrito do Porto, apelou ao reforço do PCP-PEV porque esta é a única força que esteve sempre «do lado certo da barricada» e «não ao lado do grande capital», como o PS, PSD e CDS.
Se isto não é o povo...
Chamado a intervir num palco onde se encontravam todos os candidatos da CDU pelo círculo eleitoral do Porto, Jerónimo de Sousa começou por recordar que naquele mesmo local, no 1.º de Maio de 1982, tombou o operário têxtil Pedro Manuel Sarmento Vieira. «A melhor homenagem é aqui continuarmos numa luta que também é pela liberdade», considerou.
Em seguida, o Secretário-geral do PCP abordou todos os temas fortes que têm balizado a intervenção política da CDU e que estruturaram igualmente os discursos nas iniciativas ocorridas no dia anterior em Aveiro e Águeda, e, posteriormente, no comício em Vila Nova de Famalicão (ver caixas).
Aos «coveiros frustrados» do PCP e da CDU, como lhes chamou em Águeda, o dirigente comunista perguntou, perante a impressionante maré humana, «se isto não é povo, onde está o povo?». Aos que tentam condicionar os portugueses impondo o falso dilema da escolha entre dois candidatos a primeiro-ministro, ou divulgando estudos de opinião e tendência vinculados à bipolarização das opções eleitorais, sublinhou «a grande sondagem» que iniciativas como aquela nas ruas do Porto consubstanciam.
Jerónimo de Sousa salientou, depois, que em causa no próximo dia 4 de Outubro está a escolha entre dois caminhos: o prosseguimento da política de direita pela mão daqueles que arrastaram o povo e o País para a actual situação, ou abrir caminho a uma política alternativa, patriótica e de esquerda. Exortou, assim, os portugueses a não se deixarem manipular, olhando para «as suas vidas» antes de votarem. Se o fizerem, não permitirão que os protagonistas da política de direita ponham «o conta-quilómetros a zero».
Isto é, não se deixarão enganar pelos que «dizem que o País está melhor [PSD/CDS], nem pelos que dizem que o País ficará melhor fazendo o mesmo [PS]», como já havia assinalado a primeira oradora da tarde, Maria João Antunes, da Juventude CDU.
A identificação de objectivos, no fundamental, que ressalta das propostas programáticas de PSD/CDS e PS, foi, aliás, denunciada com pertinência por Jerónimo de Sousa no périplo por Aveiro, Porto e Braga. Lembrando, designadamente, a semelhança de objectivos das propostas de ambos em relação à Segurança Social, aos direitos e salários de quem trabalha.
A concluir, o Secretário-geral do PCP apelou a que todos se assumam como candidatos no período que falta de campanha. Isto porque «eles têm meios poderosos que levam a um combate desigual, mas não têm esta riqueza que aqui se expressou», «fonte de rejuvenescimento e esperança num Portugal soberano e com futuro».
Ao final da tarde de sexta-feira, 18, o Secretário-geral do PCP percorreu o centro de Aveiro acompanhado pelo primeiro candidato por aquele círculo eleitoral, Miguel Viegas. Palavras de incentivo não faltaram à passagem da arruada. Um homem com «43 anos de descontos» que, no entanto, não se pode reformar, garantiu mesmo a Jerónimo de Sousa que «[a CDU] pode contar com o meu voto». E «lá em casa são mais dois», assegurou.
Conquistar voto a voto, «dar mais um passo» para «consolidar a possibilidade de crescimento [eleitoral]» e a eleição de um deputado do PCP-PEV pelo distrito de Aveiro. Este foi um dos reptos lançados por Jerónimo de Sousa no final da iniciativa.
Antes, da tribuna, Miguel Viegas já havia frisado que na campanha levada a cabo no distrito «nos cruzamos com caras conhecidas» porque com elas estamos na luta «em defesa dos serviços públicos, pelos seus direitos».
Casa cheia em Águeda
A legitimidade para apelar ao voto na CDU foi reclamada pelo cabeça-de-lista por Aveiro já à noite, em Águeda. Num comício que encheu o auditório da Associação Empresarial local, Miguel Viegas voltou a lembrar o património de intervenção da CDU, considerando que este «devia fazer corar de vergonha os candidatos que só aparecem em vésperas de eleições».
«Estivemos com os pescadores da sardinha que já não podem sair para o mar; estivemos com os produtores do leite incapazes de manter actividade devido ao fim das quotas leiteiras, cuja manutenção, defendida no Parlamento Europeu pelo PCP-PEV, não mereceu o voto favorável de nenhuma das forças políticas portuguesas ali representadas», exemplificou Miguel Viegas, para reiterar que «não somos todos iguais».
A diferença entre os eleitos do PCP-PEV e os deputados dos restantes partidos foi também salientada por Jerónimo de Sousa, que encerrou o comício apresentado por um candidato natural de Águeda, Carlos Rodrigues, e cuja primeira oradora, em nome da Juventude CDU, foi a também candidata Renata Costa.
A CDU não trai a confiança depositada pelos eleitores e os seus candidatos estão na política para servirem o povo e não para se servirem, sintetizou o Secretário-geral do PCP.
Em Vila Nova de Famalicão, sábado à noite, terminou a dupla jornada de Jerónimo de Sousa pelos distritos de Aveiro, Porto e Braga. Na biblioteca da cidade, depois de acomodada a sala e chamados à mesa do comício candidatos pelo círculo eleitoral de Braga, entre os quais Francisca Goulart, que apresentou a iniciativa, Mariana Silva, da direcção do Partido Ecologista «Os Verdes», manifestou confiança de que, levando as nossas propostas para a rua, «é possível alterar o nosso dia-a-dia e almejar um futuro menos sofrido».
Na rua com os trabalhadores e a população está permanentemente a CDU. Por isso, a deputada Carla Cruz e candidata do PCP-PEV pelo distrito de Braga passou boa parte do seu discurso a questionar onde estavam os deputados do PS, PSD e CDS quando os trabalhadores e o povo do distrito defendiam os seus direitos e rendimentos, os postos de trabalho, os serviços públicos e as funções sociais do Estado.
Assim, Carla Cruz deu, com ironia, as boas vindas aos deputados dos partidos da política de direita. «Sejam bem aparecidos ao distrito real, mas não fujam dos desempregados, dos trabalhadores com baixos salários», advertiu.
«Se houvesse justiça pelo trabalho desenvolvido pela Carla Cruz e, antes, pelo Agostinho Lopes, a Carla Cruz já estava eleita», afirmou, por seu lado, Jerónimo de Sousa, que dirigindo-se ao PS e às acusações de que o PCP-PEV dirige contra aquele partido demasiadas críticas, notou que os «socialistas» «hibernaram» nestes quatro anos, desertando do combate ao Governo da direita.
Acresce que tal com o PSD/CDS, também o PS pretende apresentar-se aos portugueses com a «folha limpa», acusou Jerónimo de Sousa, antes de alertar que não basta infligir nas urnas uma derrota ao Governo, é preciso romper com a alternância sem alternativa que o PS representa.